Cristo, o Advogado

"Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo". (1 João. 2.1)


Apenas nesse texto bíblico vemos esse título aplicado a Jesus. E o que isso significa para o crente em Cristo? Para muitos crentes, ter Jesus como advogado significa ter alguém que os auxilie diante de Deus quando forem acusados pelo Diabo. Tal pressuposição se justificaria em razão da imagem e do ofício de um advogado secular, bem como de textos bíblicos como os encontrados em Zacarias 3 e Apocalipse 12.10 que, supostamente, alimentariam essa imaginação por apresentarem o Diabo como acusador do crente.


Em Colossenses 2.14, no entanto, o apóstolo diz que a cédula, que era contra nós nas suas ordenanças, foi riscada e cravada na cruz, o que evidencia que o Diabo não tem mais motivos para nos acusar diante de Deus.


Dessa forma, precisamos olhar para essas questões a partir do ensino neotestamentário: o que diz a Bíblia sobre o Diabo como acusador e Jesus como advogado? Sabemos que, como acusador do crente, o Diabo viveu o auge de seu ofício na Antiga Aliança. Ali, o Diabo tinha acesso à presença de Deus e, como consequência, vivia a acusar os servos de Deus (confira Jó 1 e 2; Zacarias 3). Esse quadro veio a mudar na Nova Aliança. Aqui, vemos que o Diabo perde essa prerrogativa por dois motivos simples: (1) ele é expulso do céu (confira Apocalipse 12.10 e Lucas 10.18); e (2) a obra de Cristo na cruz do Calvário foi perfeita e completa, anulando quaisquer acusações contra nós diante de Deus (confira João 19.30; Colossenses 2.14 e 15 e Romanos 8.33). Isso é tão evidente que o texto de Apocalipse 12.10 faz uso do verbo "acusar" no tempo passado ou pretérito: "... o qual, diante de nosso Deus, os acusava de dia e de noite".


Quando a Bíblia nos apresenta Jesus como advogado, ela o faz não na perspectiva que nós concebemos o termo, ou seja, como alguém que está pronto para nos defender de um acusador. O termo original empregado em I João 2.1 e traduzido como advogado é "parakletos" e significa "ajudador" ou "aquele que nos defende". O mesmo termo aparece no Evangelho de João (14.26 e 15.26) e é traduzido por "consolador", referindo-se à pessoa do Espírito Santo. Isso é suficiente para eliminar as dúvidas. Todavia, atentemos para o texto de I João 2.1 descrito acima. Ele faz referência ao pecado e, nesse contexto, Cristo é apresentado como advogado. Assim, a figura de um advogado é aplicada a Cristo para tratar dos pecados do crente e não de possíveis acusações feitas pelo Diabo.


Ou seja, quando pecamos, Jesus se coloca diante de Deus como nosso advogado - "temos um Advogado para com o Pai" - não para nos defender de alguma acusação do Diabo, como já dissemos acima, mas para argumentar em nosso favor, nos ajudar, nos dá consolo e também interceder por nós diante do Pai, como nos afirma Paulo: "Quem os condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós" (Romanos 8:34).

Ao compreendermos essas verdades, nós nos enchemos de gozo e de gratidão Àquele que cuida dos seus em todos os momentos, até mesmo nas suas fraquezas: "...não pequeis; e, se pecar, temos um advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo". A Bíblia fala!

Augusto Pereira

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