O inferno à luz da Bíblia

“Então, dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25.41)

Contrariamente à vontade de muitos, a Bíblia fala do inferno como um lugar real para onde irão todos os que rejeitarem a salvação em Cristo; e ali viverão eternamente em sofrimento e distanciados de Deus. Neste post, vamos compreender um pouco como a Bíblia aborda essa real e importante doutrina.

Há quatros palavras no original que são traduzidas, para o português, por inferno: Seol, Hades, tártaro e Geena. Precisamos estudar essas palavras dentro do seu contexto de uso para compreendermos seu real significado no contexto das Escrituras.

1. A palavra hebraica Seol.

A palavra hebraica Seol aparece 65 vezes no Antigo Testamento (doravante AT) e ora é traduzida, dependendo da versão[1], por “inferno”, ora por “sepultura”, ora por “mundo invisível”, ora por “morte”, ora por “além”, ora por “abismo”, ora por “sepulcro” e por aí vai. Às vezes nem é traduzida, sendo registrada no original mesmo. Isso ocorre porque, no português, não há uma palavra que traduza a ideia presente na palavra Seol. Assim, para facilitar a compreensão das Escrituras pelo leitor comum, os tradutores da Bíblia optaram por essas traduções.

No entanto, entendemos que Seol não é nada disso. Só para se ter uma ideia, tomemos como referência a palavra “sepultura”. A palavra hebraica - língua em que foi escrito o AT - para sepultura é “qeber” ou “qeburah” e elas indicam um lugar físico, particular, pertencente a alguém, que pode ser adquirido ou comprado. O mesmo não podemos afirmar de Seol, pois não é físico, nem particular, nem faz parte da propriedade de algum indivíduo, nem pode ser adquirido nem comprado.

Seol também não é “inferno”. A ideia que temos de inferno é a de um lugar de sofrimento, de fogo inapagável e para onde irão todos os que desobedecerem a Deus. O inferno de fato existe, mas não pode ser o Seol. Em Gênesis 37.35, vemos que Jacó, homem de Deus, esperava ir para o Seol. Do mesmo modo Jó, homem temente a Deus, externou seu desejo de ir para o Seol (Jó 14.13).

Assim, podemos ver que o Seol não é o inferno, muito menos uma sepultura, mas representa o lugar da habitação dos mortos, justos e injustos, de localização incerta, pertencente ao mundo espiritual. Em Salmos 9.17, vemos que os ímpios serão lançados no Seol mas, certamente, não ficarão no mesmo lugar dos justos, como veremos mais adiante. O Seol é, portanto, à luz do AT, o lugar da habitação da alma e do espírito entre a morte e a ressurreição futura.

2. A palavra grega Hades.

A palavra grega Hades aparece 10 vezes no Novo Testamento (doravante NT) e expressa a mesma ideia da palavra hebraica Seol, pois Atos 2.27 faz referência ao Salmos 16.10, substituindo a palavra Seol nele registrada por Hades. No nosso português, porém, não há - à semelhança da palavra Seol - uma palavra que expresse fielmente a ideia presente em Hades. Assim, “inferno” é a palavra mais usada no NT para traduzir Hades sem, necessariamente, se descartar a utilização de outras palavras/expressões. Às vezes, Hades – à semelhança de Seol - nem é traduzida, ficando no original mesmo. Tudo isso, como já enfatizamos acima, para facilitar a leitura da Bíblia e a apropriação de suas ideias pelo leitor comum.

Em Lucas 16.23, Hades é traduzido por “inferno”. Não é aquele inferno cuja ideia temos em mente, ou seja, o lugar final dos que se rebelarem contra Deus e que ali viverão eternamente separados dele. Pelo contexto, vemos se tratar do lugar dos mortos, assim como Seol no AT. O texto de Lucas (16.19-310), no entanto, traz informações importantes sobre esse lugar:

a) no Hades há uma separação entre o lugar dos salvos e o lugar dos perdidos, feita por um abismo (v.26).

b) no Hades há consolo e alívio para o salvo (v. 25).

c) no Hades há tormento e sofrimento para o perdido (v.23,24).

O Hades é, portanto - assim como o Seol - o lugar da habitação dos mortos, ou seja, de sua alma e espírito, que ficam ali aguardando a ressurreição do corpo.

3. A palavra grega Tártaro.

A palavra grega tártaro aparece uma única vez no NT e é traduzida, de igual modo, pelo termo “inferno”. Pedro faz uso dessa palavra para indicar o lugar onde estão os anjos que se rebelaram contra Deus e aguardam o juízo divino (2 Pe. 2.4). Pelo contexto, compreendemos que Tártaro se trata de um lugar de densas trevas, específico para determinados anjos que se rebelaram de tal forma que Deus não permitiu que fossem lançados à terra com os demais anjos rebeldes (confira Judas 1.6 e Apocalipse 12.9).

A creditamos que os anjos que estão nesse lugar serão soltos temporariamente, no decorrer da Grande Tribulação, para atormentar a humanidade, reflexo dos justos juízos de Deus sobre este mundo (confira Apocalipse 9). Do mesmo modo, também acreditamos que é nesse lugar que o Diabo ficará preso durante o Milênio, sendo depois solto para tentar as nações, antes de sua sentença final ser decretada pelo Senhor (confira Apocalipse 20)

O Tártaro é, portanto, o lugar onde se encontram presos alguns anjos que se rebelaram contra Deus, de tremenda escuridão. Não é o inferno propriamente, mas um lugar horrível, temporário - assim como Seol/Hades - que deixará de existir depois do Juízo Final.

4. A palavra grega Geena.

A palavra grega Geena aparece 12 vezes no NT e é traduzida apropriadamente por “inferno”, tanto na versão Corrigida como na Atualizada. No entanto, há outras palavras e expressões utilizadas para traduzir Geena. Em Mateus 5.22 Geena é traduzida por “inferno de fogo”. Já em Mateus 13.42-50, esse lugar é chamado de “fornalha de fogo”. Em 18.8 desse mesmo Evangelho, Geena aparece como “fogo eterno”, sendo essa expressão repetida no capítulo 25.41. No Apocalipse, encontramos a expressão “lago de fogo” para indicar Geena (19.20; 20.10).

A partir da leitura desses versículos, podemos entender que a Bíblia, diferentemente do que faz com Seol, Hades e Tártaro, apresenta Geena como o lugar final, tanto do Diabo e seus anjos, como dos homens e mulheres que não aceitarem a salvação em Cristo nesta vida. Geena é, portanto, o inferno propriamente dito, eterno, presente no imaginário de todo indivíduo.

Para compreendermos melhor o que representa Geena na visão bíblica, leiamos o que segue:

a) o indivíduo é lançado no Geena em seu corpo ( Mt. 5.29,30), o que inclui todo o seu ser: corpo, alma e espírito, já que a alma e o espírito habitam o corpo.

b) o Geena é um lugar de fogo que nunca se apaga (Mt. 5.22 e Mc 9.43).

c) o fogo do Geena existe para preservar o indivíduo (Mc. 9.49)

d) o Geena é um lugar de tormento (Ap. 20.10)

e) para o Geena irão pessoas, como o Anticristo e o Falso Profeta (Ap. 19.20)

f) para o Geena irá o diabo e seus anjos (Ap. 20.10; Mateus 25.41)

g) o Geena é um lugar eterno - assim como o céu - e fará parte da eternidade de muitas pessoas que, repito, não aceitarem Cristo como seu salvador nesta vida.

Para finalizar essas considerações, apresento dois fatos relacionados a Geena:

O primeiro está registrado em Apocalipse 19.20 e 20.10 e envolve o fator “tempo”. Há, entre esses versículos, um intervalo de mil anos. Ou seja, o Diabo só encontrará seus companheiros - o Anticristo e o Falso Profeta - mil anos após serem lançados no Geena. Em outras palavras, o Diabo "chegará" ali mil anos depois, e ainda assim encontrará seus companheiros vivos! O que indica que Geena é eterno e quem para lá for não é consumido nem deixa de existir. O fogo do Geena existe para preservar, como já pontuamos acima.

O segundo está em Apocalipse 20. 13,14, e nos faz entender a relação existente entre Hades e Geena. Quando o homem perdido morre, sua alma e seu espírito passam a residir no Hades, ao passo que seu corpo se "dissolve" - quer tenha desaparecido no mar, quer tenha sido enterrado ou cremado - e fica aguardando a ressurreição para comparecer diante do Supremo Juiz, no Juízo Final, ser julgado e, se for o caso, condenado e lançado no Geena. Neste caso, o indivíduo será lançado no Geena na sua totalidade: corpo, alma e espírito, pois no evento da ressurreição o corpo, a alma e o espírito do indivíduo se juntarão, formando um todo. A Bíblia descreve assim essa cena: “O mar entregou os mortos que nele havia, e a morte e o Hades entregaram também os mortos que neles havia. E eles foram julgados, cada um segundo as suas obras” (v. 13). O texto prossegue: “A morte e o hades foram jogados no Geena, esta é a segunda morte, o Geena” (v.14). Esse prosseguimento nos leva a crer que a morte terrena e o Hades são temporários, e que deixarão de existir na eternidade, pois serão tragados pelo Geena, a eternidade dos que não aceitarem a Jesus como seu salvador. A Bíblia fala!


Augusto Pereira



[1] Na tradução da Bíblia para o Português há várias versões, como Almeida Revista e Corrigida, Almeida Revista e Atualizada, Almeida Revista Fiel, para citar algumas.


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